O texto possui dois erros evidentes: um de autoria, outro de conteúdo. O primeiro trata-se de equivocadamente atribuí-lo ao jesuíta Pierre Teilhard de Chardin. Sobre isso é possível, no mínimo, desconfiar numa primeira leitura, pois se o trecho em tela chama a atenção, não é pela qualidade literária. Ainda que a obra do filósofo, geólogo, paleontólogo e padre jesuíta tenha recebido uma “advertência” em documento emitido pelo Santo Ofício em 1962, por conta de “ambiguidades e, de fato, até mesmo erros graves, que ofendem a doutrina católica”, Teilhard de Chardin é reconhecido pela qualidade inclusive poética dos seus escritos.

Por conta da provável atribuição equivocada, fui revisar o livro citado “O Fenômeno Humano”, de onde, segundo a revista da Arquidiocese, o texto teria sido pinçado. Confirmou-se a suspeita: não tem nada disso no livro. Então procurei na internet o possível autor do trecho publicado pela Arquidiocese. Constatei que diversos sítios e blogues o reproduzem, indicando como autor o sr. Guido Nunes Lopes, professor no departamento de agronomia na Universidade Federal de Roraima. É verdade que alguns blogues atribuem ao jesuíta, o que explicaria o erro transposto da internet para o informativo arquidiocesano.

As duas últimas frases, (“Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual… Somos seres espirituais passando por uma experiência humana”), por sua vez, são constantemente atribuídas na internet ao Pe. Teilhard de Chardin – comuns em espaços espíritas. O sítio “O Pensador”, que reúne diversas citações, atribui a autoria desse trecho ao escritor americano Wayne Walter Dyer, destacando que não há nenhuma fonte que comprove a autoria da mesma pelo jesuíta. O que faz todo sentido, visto que é um pensamento que afronta a doutrina católica, segundo a qual a pessoa humana é uma união de corpo+espírito – daí o fato de ressuscitarmos com corpo e espírito no juízo final.

O segundo erro do texto, infinitamente mais grave, é o conteúdo. As ideias ali manifestadas não poderiam estar num informativo distribuído nas nossas paróquias, pelo simples fato de que são, em seu conjunto, contrárias ao que prega o catolicismo. Traduzem um pensamento gnóstico, iIncentivam uma “espiritualidade” que dispensa a religião, rejeitam os dogmas, a tradição e a hierarquia da Igreja, semeiam o panteísmo e o indiferentismo religioso.

São tantos problemas e me parecem tão óbvios que não caberia aqui falar de cada, apesar de todos merecerem uma resposta esclarecedora, para não deixarmos os fiéis da arquidiocese expostos ao erro. Mas vou chamar a atenção para alguns deles no próximo post.

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